segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um único momento...

Aqui fica um texto escrito pela Ana Luísa para todos aqueles....que sabem quem são!!!!
Um único momento

As linhas que passarei a escrever são sobre o Carlos. Uma necessidade básica minha, como respirar e comer.
A perda da pessoa com quem um dia decidíramos partilhar toda uma vida constitui um golpe bem rude nos sentimentos, emoções e expectativas que devotávamos ao sentido real da nossa existência: o amor
Sem me aperceber, em certo momento de um passado mais ou menos distante, por artes de um sortilégio nunca desvendado, a imensidão de traços com que é talhada, uma dada individualidade transformou-se no centro das minhas atenções plenas. O pensamento mantinha-a constante quando ela se encontrava ausente e o coração, esse bastião da expressão afectiva, afogueava as faces na sua presença. Comecei a descobrir nela um conjunto de evidências de que afortunadamente conservava em exclusivo a chave de descodificação, revelador das artes que lhe eram naturais, como o carácter, a inteligência, a beleza, o humor, a competência e muitos outros, e que avaliei estarem na dose adequada ao espaço que detinha para uma felicidade conjugal. Era, sem dúvida, a pessoa certa e, por isso, a namorei até se confirmar com a certeza tão fiável quanto o amor possibilita os anseios de uma vida comum duradoura.
Consumámos o enlace, na grande expedição da construção de uma família, fomos sedimentando, no quotidiano dos obstáculos transpostos os dois, que o Carlos mantinha em mim aquela confortável e imprescindível sensação de segurança física e emocional. Jamais estaríamos sós. O Carlos passou a ser o abrigo dos meus receios, o aconchego das minhas tristezas, a fonte dos meus prazeres e a alegria da minha alma.
Perante tão imensas e confortantes sensações proporcionadas pela comunhão conjugal de afectos, comecei a adivinhar a derrocada que sobre nós se abate quando perdemos de forma irreversível a pessoa a quem jurámos eterno amor, respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. A privação entra brutalmente portas adentro da intimidade conduzida pela morte que chega num aziago em que ceifa o esplendor irradiante do homem que me fazia sentir orgulhosa de existir.
Não sou nenhuma sábia. Não finjo que tenho as respostas para todos os segredos do universo, mas há algo que sei: uns vivem bem, outros morrem bem, mas poucos amam bem. Porquê? Não sei e não posso responder a isso. Todos vivemos, todos morremos – não há formas de escaparmos, mas é o que está no meio que importa. Amar bem…é outra coisa. É uma escolha. É algo que se faz uma e outra vez, de modo interminável. Independentemente de tudo o resto. E na minha experiência, se escolhermos fazê-lo, temos de estar dispostos a suportar os piores tormentos. A perda!!!
Compreendi que a vida é uma sonata que tem de ser tocada até ao fim…
Sinto que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. “Aquilo que a memória amou fica eterno”. Um pôr-do-sol, uma carta que se recebe de um amigo, os campos de relva a brilhar ao sol nascente, cheiro a jasmim, um único olhar de uma pessoa amada, as árvores de Outono, um mergulho no mar, as mãos que se seguram, o braço de um filho: houve muitos momentos na minha vida de tanta beleza que eu disse para mim mesma: “Valeu a pena eu ter vivido toda a minha vida para viver esse único momento”. Há momentos efémeros que justificam toda uma vida.
Compreendi, de repente, que a dor da sonata interrompida se deve ao facto de que vivemos sob o feitiço do tempo.
Achamos que a vida é uma sonata que começa com o nascimento e deve terminar com a velhice. Mas isso está errado. Vivemos no tempo, é bem verdade. Mas é a eternidade que dá sentido à vida.
Eternidade não é o tempo sem fim. Tempo sem fim é insuportável. Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem fim? Tudo o que é belo tem de terminar. Tudo o que é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas. Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual nós dizemos: “Valeu a pena”. Não é preciso evolução, não é preciso transformação: o tempo é completo e a felicidade é total. É claro que isso, só acontece em raros momentos de distracção. Não importa. Se aconteceu, fica eterno. Por oposição ao “nunca mais” do tempo cronológico, esse momento está destinado ao “para todo o sempre”. Compreendi, então, que a vida é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até ao fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efémero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.
Não somos o que éramos, nem tão pouco seremos o que fomos!
Quero com isto tudo dizer que…
Existem pessoas nas nossas vidas que nos deixam felizes pelo simples facto de terem cruzado o nosso caminho. Algumas percorrem ao nosso lado, vendo muitas luas passarem, mas outras apenas vemos entre um passo e outro. A todas elas chamamos amigos. Há muitos tipos de amigos. Talvez cada folha de uma árvore caracterize um deles.
O que nos deixa mais felizes é quando as folhas que caíram continuam por perto, continuam alimentando as nossas raízes com alegria. Lembranças de momentos maravilhosos enquanto cruzavam o nosso caminho. Simplesmente porque cada pessoa que passa nas nossa vida é única. Deixa sempre um pouco de si e leva um pouco de nós. Há os que levaram muito, mas não há os que não deixaram nada. Esta é a maior responsabilidade da nossa vida é a prova evidente de que duas almas não se encontram por acaso.
A todos vocês meus amigos…deixo a minha eterna gratidão pela vontade que têm e sempre tiveram de estar perto de mim e da Bruna, o NUNCA sentirem necessidade de “esquecer” o Carlos tentando acalmar a vossa dor de uma maneira ou de outra. Todos sabemos que ele se mantém por perto…para nossa protecção!!!

Bem Hajam

PS: Aproveitem as oportunidades, todas as oportunidades…pois…escutar o coração é acreditar na vida.

Ana Luísa Silva

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Morte, saudosa Morte...

Aqui fica um texto do Camilo (TAE Cantanhede) enviado à Dra. Regina Pimentel e que depois foi partilhado com todos.
Depois das devidas autorizações do autor, o transcrevo aqui...
"Há algum tempo escrevi este texto tentar explicar a mim proprio que significado teria a morte e qual a forma como eu a teria de sentir e vivenciar, acho que faz sentido acreditar que a morte é apenas uma forma de elevação e transcendencia e não de desaparecimento, ofereço-lhe a si, depois de ler o seu mail a proposito do nosso grande amigo Carlos, espero que goste, um abraço...

Morte, saudosa Morte...
De onde vens, para onde vais, boa ou má, diz-me lá afinal quantas faces tens...
Morte, saudosa Morte...
Condição intima do ser, fatalidade do destino, erro crasso do Homem ou mera
vontade de Deus Criador...
Qual força, qual sentimento, qual razão terás tu oh! Morte, para escolher entre
os demais, para banalizar todos os anseios e os alentos dos Homens, ditos os
grandes Seres do Mundo...
Impregnada a cada mudança de lua, vens de mansinho como um ledo passarinho,
e, sem que ninguém se aperceba vais levando quem mais amas ou quem mais te
apraz, não deixando a esta frágil existência um porquê um indicio uma razão ou
um aparente motivo.
Navegas escondida por entre a bruma e o breu, deixando-nos este sentimento
funesto consumir a alma que jaze, que cai inerte no chão frio tépida e
desamparada ao ver-se apartada de quem ama, e de quem nos quer vem,
sempre!!!...
Sempre, cedo demais....
Talvez sejas o expoente máximo da existência, onde tudo se acaba e se
reabsorve para o sem fim, lá longe onde tudo se converte em terra, em dádiva e
fertilidade.
No entanto és uma faca de dois gumes “Amor e Ódio”...
Para uns és dor, angustia e desespero profundo, para outros és o simplesmente
ponto de partida para a emancipação dos tempos, para elevação da honra e do
carácter...
Para outros és o retrato imóvel da perda, do sentimento da inanidade, da
partida para o sem fim, és a água do rio que chegara tão cedo à sua foz. Para
outros és o culminar da grandeza da Paixão, a elevação aos céus dos
sentimentos nobres, pois o que é nobre e santo, a Deus pertence, e o que é vil e
ignóbil, pertence à Terra e na Terra se consome.
Morte, saudosa Morte...
Diz-me lá, quantas faces tens?...
No fim de tudo, depois de pesadas na balança da vida todos os condicionalismos
do ser, não serás mais do que um mero colapso do corpo que pertence à Terra e
lá se consome, pois a alma é imensa, nobre e resplandecente e, a Deus pertence,
como tal permanecerá eternamente gravada com tinta de alentos e de júbilos
no pesado livro dos séculos, que trespassa para sempre todo o eternamente.
Assim como disse Jesus de Nazaré na sua penosa jornada, “ Eu sou a
Ressurreição e a Vida Quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá”.
Queima-se o corpo mas a alma permanecerá viva no sótão do nosso coração, e
sentado ao lado do Senhor exultando a sua glória celeste...
Morte, saudosa Morte...
Diz-me lá afinal, quantas faces tens?... "

João Camilo
TAE Cantanhede

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Reflexões - Parte V

Escrevi há um ano que "normalmente o dia sucede à noite e o soL sucede à Lua mas há dias em que esta perfeita normalidade se estrangula no meio de acontecimentos que nos fazem procurar o sentido lógico das coisas, das pessoas, dos lugares e dos momentos..."!

Passado um ano, o dia continua a suceder à noite e o soL à Lua e continuam a existir dias em que esta (im)perfeita normalidade se estrangula. O dia 4 de Novembro do ano passado não desapareceu e muito menos foi esquecido, nem hoje, nem ontem nem antes disso. Está isso sim, bem presente apesar do rebuliço do dia-a-dia e da escassez de minutos que os dias insistentemente continuam a ter.
É que esse dia continua a estrangular o meu conceito de normalidade...


Trago comigo uma vontade inimaginável de correr mundo, de conhecer e ser surpreendido pela pequenez do meu conhecimento e do meu pensamento; sei que vou perceber em cada lugar diferente que há formas diferentes de fazer, de ser, de estar e de sentir e isso fascina-me. Por norma, caminho com a despreocupação de uma criança naturalmente ingénua mas interrompo esse precurso para pensar e sinto-me triste. É que algo pode "estrangular" os sonhos, os planos, a ambição e os desejos de alcançar o mundo com a mão. Não tenho de ficar, nem devo ficar triste, é no caminho que está a felicidade (ou os momentos felizes como lhe gosto de chamar) e não na meta; eu sei disso, eu vivo isso! Mas porquê ser feliz num caminho quando se pode sê-lo em mais outro e depois noutro e ainda em mais um????
Essa frustração não consigo mudar, não a penso, antes a sinto e o que se sente não dá para mudar por acção simples da razão!


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas (...), descobertas (...), sonhos (...), risos (...), lágrimas (...), angústias, finais de semana, finais de ano...
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre." fernando pessoa



Trago comigo umas saudades imensas do Carlinhos - pensei que as amizades continuassem para sempre e o "para sempre" ainda não chegou - e por muito bons que tenham sido os momentos, por tanto que tenha sido o tempo de fruição, eu sinto que queria mais e nada nem ninguém me vai fazer sentir o contrário. Portanto, deixem-me estar triste, deixem-me querer ter tido mais, não queira alguém que me resigne! Não desisti de nada e nem desapareceu em mim a vontade de conquista mas quero poder ter um dia em que estou triste e hoje é um desses.
Amanhã estarei de volta à luta ou talvez hoje mesmo depois de escrever...



Meu caro,

Perdoa-me se for de outra cor mas para mim continuas a "andar de nuvem em nuvem vestido de batina branca", continua a aparecer para uma conversa e continua sobretudo a inspirar-me. Eu continuarei a fazer-te o "favor" de ser feLiz...


Abraço sentido


P.S. A Claudia agradece a tua flor. Disse que era muito linda:)

AMIGOS!

A propósito da mensagem pessoal que uma pessoa deixou no momento do desaparecimento do Pirata e repetida ontem, tomo a liberdade de postar este vídeo que "transporta" esse poema do VINICIUS DE MORAES:





É o poema certo para este (e todos os outros) dia(s)!!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um ano depois...



Após UM ano da morte do nosso colega Carlos Silva - Pirata da Foz, e para lhe prestar uma pequena homenagem, a Delegação Regional do Centro do INEM manda celebrar uma missa no dia 04 de Novembro às 19:00 horas na Igreja de S. José em Coimbra (perto do C. C. Dolce Vita).

Apareçam...