terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PROCEDIMENTOS – Tudo começa na central


Fase de alerta é essencial

Os dados fornecidos na fase de detecção, por quem assiste ao acidente, são fundamentais para os serviços de emergência.
Cristina Nunes, coordenadora dos operadores da central do CODU Centro, afirma que quem lança o alerta, ao ligar 112, “é de extrema importância em todo o processo, tendo em conta que a escolha do meio mais indicado, resulta dos dados fornecidos aos operadores”. No lado “negro” do serviço 112 estão as chamadas falsas, que se intensificam no “intervalo nas escolas”...Ligar 112 significa contactar a central de emergência da PSP que perante algumas referências - “feridos” ou “preciso de uma ambulância”, por exemplo – transfere a chamada, neste caso, para o CODU Coimbra. O operador da central recolhe os dados (local, número de pessoas envolvidas, etc) e através de uma aplicação informática obtém a georeferenciação da chamada – o sistema indica a localização, mas o operador solicita sempre o número de telefone, já que “não há nada mais fiável do que as informações fornecidas por quem lança o alerta”. O operador, explica Cristina Nunes, efectua, ainda, um trabalho “muito importante”: o aconselhamento ao pré-socorro. “Por mais diferenciados que sejam os meios, se não for feita alguma coisa até à chegada do apoio de emergência, há vidas que se perdem”. A coordenadora dos operadores do CODU Centro confessa que são estes casos que mais receia, pois tudo depende “de quem está do lado de lá da linha”. Por muito bom que seja o aconselhamento, se o operador não contar com a colaboração de quem lança o alerta nomeadamente na localização, todo o trabalho poderá revelar–se infrutífero. O modo como os dados são fornecidos e “o conhecimento das equipas” torna, segundo Paulo Varela, enfermeiro de back office do INEM Centro, “os dados mais ou menos fiáveis”, exigindo dos operadores, enfermeiros de acompanhamento e médicos reguladores, no CODU, uma análise atenta ao caso que têm em mãos.O CODU Centro possui 10 viaturas VMER instaladas nos respectivos hospitais, 15 ambulâncias de suporte básico de vida – algumas só fazem o período nocturno –, cinco ambulâncias de suporte imediato de vida e a VMER CODU (com duas cargas completas, “o que permite sair com duas viaturas”, explica Paulo Varela) para apoio às equipas em toda a área de influência. Muitas vezes, devido à falta de viaturas VMER ou de ambulâncias de suporte básico de vida, a VMER CODU “é um recurso” para responder a situações em que não há meios ou para reforçar os meios no terreno.
LINHA 112 NÃO É BRINCADEIRA
Intolerância devia pagar imposto
As chamadas falsas são o que mais aborrece os profissionais do INEM. Cristina Nunes, coordenadora dos operadores do CODU Centro, acrescenta a intolerância. “As pessoas apontam o dedo muito facilmente, tentam descartar responsabilidades. Nas épocas festivas e nas férias o descartar de idosos para o hospital é um hábito”, conta. Quem utiliza os serviços do INEM deve lembrar-se que não é possível ocupar meios que podem ser necessários para situações de verdadeira emergência. “A dúvida é a favor da vítima, mas muitas vezes as pessoas não reconhecem o que está em causa”, afirma Cristina Nunes. Já o enfermeiro Paulo Varela enquadra o problema na “falta de sentido de responsabilidade e de cidadania, a começar pelo socorro, pois as pessoas, muitas vezes, não prestam uma assistência melhor por ausência de conhecimentos, que deviam ter sido ministrados na escola”. Porém, mesmo para um leigo, é fácil perceber se a pessoa está pálida, se fala, se está consciente ou até suada, um conjunto de dados que são fundamentais no momento do contacto com a central do CODU e que facilita o trabalho. “Estes dados, por vezes, são arrancados a saca-rolhas pelos operadores. São verdadeiros ‘pescadores’”, considera Paulo Varela.
MODELO
Portugal no bom caminho?
Convidado a analisar o funcionamento dos serviços de emergência em Portugal, Paulo Varela, enfermeiro de back office do INEM Centro, considera que “estávamos a caminhar no sentido de criar um modelo adaptado à nossa realidade e que poderia ser exemplar”. Hoje em dia, porém, o profissional de saúde “tem dúvidas” e confessa que “pode estar em causa a mudança”, pois, afirma, o que está a ser feito “não é explicado aos profissionais”. Ora, segundo Paulo Varela, o contributo de quem está no terreno “permitiria uma evolução por fases, identificando determinados riscos”. O saber, acrescenta, “não está na pessoa, está na profissão”, pelo que, se os profissionais estiverem envolvidos nos mesmos objectivos, é possível alargar “a rede” contando com contributos de “fora para dentro”.

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